O mundo do vinho se aprofunda dia a dia no estudo e na compreenção de si mesmo. É regido por uma série de regras, remotas e modernas, que servem de bússola e nos orientam em meio a um rio, sempre extenso, mas que agora abre novos braços São múltiplos meandros que se expandem no que que se refere aos vinhos de qualidade e deságuam sua cultura pelaa mais diversas regiões do planeta. Assim, certas teses embasadas na ciência e na prática milenar, que nos mostram o que e como beber com qualidade, são cada vez mais bem-vindas. É prudente, porém, não nos atermos a conclusões definitivas e generalizantes. Isto ocultaria um outro modo de chegar ao coração do conhecimento: a valorização das divergências, os descaminhos do vinho.
Uma das idéias mais difundidas pelos praticantes e comentadores do assunto é que vinho branco seco não envelhece bem, já que o tanino éo principal conservante natural do vinho e o branco é praticamente isento dessa substância. Existem, porém, além dos brancos leves e primários - que são agradavelmente leves e refrescantes, concebidos para serem bebidos jovens -, duas outras categorias de vinho branco.
Além dos leves e primários - que são agradavelmente leves e refrescantes, concebidos para serem bebidos jovens - há duas outras categorias de branco.
Há aqueles que esbajam vivacidade e são suficientemente estruturados para, sem perder o poder de seu frescor peculiar, fazer desabrochar, depois de alguns anos envelhecimento, aromas mais cativantes que se fundem aos jovens já presentes. Nesse grupo, estão os vinhos franceses da região de Chablis, os Riesling da Alsace, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc do Loire. Também fazem parte muitos alemães relativamente leves ou de corpo médio e muitos estruturados de Friuli, uma das melhores regiões para brancos da Itália. Destacam-se ainda alguns espanhóis sem esquecer espumantes brancos, como os Champagne não safrados, que se tornam mais ricos depois de alguns anos. Longe de serem grandes maratonistas, esses vinhos podem durar cinco ou seis anos.
A outra categoria é a de imponentes brancos de alma negra (tinta), que, como os melhores tintos do mundo, chegam a durar décadas e aos quais só o envelhecimento trará a desejada complexidade aromática. Quando jovens, sugere-se até mesmo que sejam decantados para que se beneficiem com a aeração e, dessa forma, soltem seus sabores e nos excitem com o amplo panorama de aromas que se ressaltam com um tempo na jarra ou mesmo no copo. Entre esses potentes e longevos vinhos, encontramos vários das regiões de Puligny e Chassagne Montrachet, Corton Charlemagne, Hermitage e alguns do Vale do Loire, todos franceses. Na Espanha, o Tondonia é surpreendente, pois dura décadas, sendo que os das safras de 70 e 80 exalam vida velha, cheiram ambiente de casa antiga, sabores evoluídos, próprios da sua nobre oxidação. Não raro também se encontram vidas vivazes em alemães antigos, de sabores pungentes que, clarinhos quando moços, mostram um imponente amarelo dos pintores pré-impressionistas, que transita entre o luminoso e o opaco. De Portugal, provei vários e vitoriosos Buçaco, brancos com 30 ou 40 anos de idade, talvez até mais velhos. Não me lembro bem. Nesse caso, restou apenas a memória gustativa desses vinhos vovôs.
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Quando provo um bom branco, saudável, cheio de personalidade e que não se deixa prender pelas idéias feitas, me vem à mente a canção "Tiranizar", de Caetano Veloso: "Me prenda e você me perdeu/ Me deixe solto e eu sou todo seu".
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