Novas embalagens, atrativas, econômicas e ecológicas, conquistam cada vez mais os novos consumidores de vinhos
Primeiro, foi a rolha. Agora é a própria garrafa que vem sofrendo transformações e gerando discussões em todo o mundo. Diante dos novos consumidores e da importância que os supermercados adquiram nos últimos anos como importantes canais de distribuição de vinhos, muitos produtores estão buscando alternativas mais atraentes - e de menor custo - às tradicionais garrafas de vidro. Nesse cenário, novos materiais, formatos e tamanhos vêm conquistando cada vez mais espaço. A alternativa mais conhecida às garrafas convecionais são as chamadas bag-in-box (BIB), que começam a aparecer com mais frequência por aqui. Trata-se de uma caixa de papelão que traz uma bolsa plástica onde é colocada a bebida. Uma válvula de dosagem permite a retirada do líquido sem que haja entrada de ar, prolongando assim a durabilidade do vinho depois de aberto. Se a Embraquim, pioneira na fabricação de embalagens bag-in-box no Brasil, mesmo quando a bolsa é transparente, a qualidade da bebida é preservada.
Com espaço já conquistado em países da Europa, na Austrália e nos Estados Unidos, essa embalagem chegou ao Brasil com os rótulos argentinos e já vem sendo utilizada por produtores nacionais, como Casa Valduga, Don Cândido e Miolo.
"No mundo do vinho, temos de ser inovadores, com um cuidado técnico que resguarde o produto", diz Juciane Casagrande, enóloga e diretora comercial da Casa Valduga. De fato, especialistas aprovam, de modo geral, a funcionalidade do envase, mas têm suas restrições quanto ao uso. "Para o vinho, não apresenta problemas, nenhum tipo de alteração, pelo menos no tempo em que já foi provada. Mas não se tem ainda a experiência de utilização dessas embalagens por tempo suficiente para aquilatar com segurança a sua ação sobre a saúde do vinho durante muitos anos de guarda", diz Daniel Pinto, presidente da Sociedade Brasileira dos Amigos do vinho. "Esteticamente, repugna aos enófilos tradicionalistas, pois destrói todo o charme de uma garrafa tradicional fechada com rolha de cortiça", diz Pinto, que acredita que esse tipo de embalagem seja perfeito para vinhos de consumo diário.
E é esse realmente o alvo das vinícolas. "Esses consumidores costumam ser pessoas que gostam de tomar um cálice de vinho por dia, em casa ou no restaurante. Com esse tipo de embalagem, elas não perdem a qualidade do produto e ganham em conveniência pois as caixas são mais leves e mais facilmente acomodadas", garante Márcio Padilha, diretor nacional de vendas da Miolo.
O apelo ambiental das novas embalagens também é grande.
"As garrafas requerem mais caixas de papelão e berços para transportá-las, aumentando o número de embalagens na cadeia produtiva e gerando mais poluição.
As embalagens alternativas requerem bem menos caixas para serem transportadas", diz Silvana Bastianello, professora do curso de Design da Universidade de Caxias do Sul, com mestrado em Eco Design. "É forte a tendência de criar cada vez mais embalagens com materiais reciclados, que não agridam o meio ambiente e que, além disso, agregem valor à marca".
A California Boho, por exemplo, não só vende seus Cabernet e Merlot em box - o que reduz consideravelmente o peso do produto final, a emissão de carbono e o volume deresíduos - como faz questão de usar em sua confecção um cartão estilo kraft de material reciclado (95%) e impressão com tinta base de soja.
Silvana destaca ainda outra vantagem dos boxes. "Como o espaço da caixa é maior, seu design também tem de chamar a atenção do consumidor, com layout mais orgânico, solto e que leve em conta a emoção do consumidor. " A criatividade é ainda maior". Exemplo disso é a embalagem criada pela california na Gallo Family, que conquistou o prêmio de melhor design e embalagem na London International Wine Fair 2008. De gosto questionável, o box - recheado com o rosé da casa - foi adaptado ao formato de uma bolsa feminina.
Mais elegantes, as embalagens da Revelry, de Columbia Valley, nos Estados Unidos, vieram para "preencher o espaço entre as garrafas e as caixas", segundo a empresa. Cilíndricas e com capacidade para até 1,5 l, elas são práticas e não fazem feio na mesa. Mas, para não perder nenhuma fatia de mercado, após inovar, a vinícola viu que era possível atender também o consumidor tradicional e lançou uma linha de garrafas convencionais. "Estamos dando opções ao consumidor" diz Jared Burns, fundador e winemaker da Revelry Vintners.
Portáteis
As caixinhas de TetraPak também vêm ganhando espaço no setor A inevitável associação com outras bebidas, como sucos ou lácteos, não tem diminuído o apelo desse produto ante o novo consumidor de vinho, embora, para os mais tradicionalistas, sejam bem pouco interessantes. "Além do aspecto pouco atraente para o consumidor de vinhos, a TetraPak apresenta o inconveniente de não permitir a guarda de alguma eventual sobra, pois não permite recurso da retirada do ar", diz Pinto. " Mas é muito utilizada na Austrália, onde recebe o carinhoso apelido de Château Cardboard. A French Rabbit, da francesa Boisset Family Estates, propõe-se a vender vinho de qualidade em embalagens TetraPak de um litro - ou, conforme seu apelo de marketing, duas taças a mais que uma garrafa tradicional. Os primeiros a receber esse produto foram os canadenses e os americanos. Com o sucesso obtido nesses mercados, a caixinha passou a ser vendida também na Europa e na Ásia. Com a marca Mommessin, a empresa ousou ainda mais. Além de usar desenhos com traços bem adolescentes em seus rótulos, seu Beaujolais e seu Chardonnay vêm em embalagens de alumínio com um recurso que permite saber se o vinho está na temperatura ideal.
Outra alternativa às tradicionais garrafas são os pouches - as bolsas plásticas flexíveis. Um dos principais difusores desse empaque é a sul-africana The Company of Wine People, forte no mercado europeu com suas marcas Versus e Arniston Bay, esta última também vendida em TetraPak. "Queríamos dar a consumidor uma embalagem leve, que pudesse manter as características de nossos vinhos de qualidade e que facilitasse o transporte aos locais onde muitas vezes se quer provar um bom vinho, como piqueniques e atividades ao ar livre em geral", diz Chris O'Shea, diretor de vendas e marketing da empresa.
Hoje, The Company of Wine People vende nesse formato embalagens de 1,5l e 2l, com opções de brancos, tintos e rosés. Para atender a uma nova demanda, a do consumo individual (incluindo aqui serviços de bordo), está desenvolvendo também a embalagem de 250ml.
Nesse segmento, deve disputar com vinhos envasados em TetraPak pequenos e em latas de alumínio, como no caso de Volute.
Com visual moderno, Volute se apresenta como o primeiro vinho premium (trata-se de um Bordeaux 2007) portátil. Em três simplificadas opções (tinto, branco e rosé), a bebida é vendida em envases de 187,5ml, exatamente um quarto do volume padrão de uma garrafa. Seus apelos de venda são basicamente os mesmos que os de outras marcas inovadoras: conservação das qualidades do vinho, facilidade de transporte (as embalagens são leves e inquebráveis), praticidade (dispensam taças e saca-rolhas) e sustentabilidade. "Para o mesmo volume de vinho, as garrafas Volute pesam um quarto do que pesam as garrafas de vidro, e transportar garrafas de vidro para reciclagem também custa e polui mais que produzi-las. Produzir uma garrafa de Volute com alumínio reciclado exige cerca de 90% menos matéria-prima, 50% menos água e polui 50% menos o ar", diz o comunicado da empresa.
Ampliando mercado
Para muita gente, embalagens que fogem do tradicional podem ser vistas como uma forma de vender vinhos de vinícolas pouco conhecidas ou de qualidade questionável. No entanto, reconhecidos produtores, como Moët & Chandon e Francis Ford Coppola, também estão experimentando novos formatos para atrair mais consumidores.
Coppola acaba de lançar a linha Encyclopedia, uma interessante garrafa que pretende levar um pouco de conhecimento sobre cepas características de certos países. Também lançou copos individuais com tampas estilo peel-off para seu cabernet Sauvignon e para o Pinot Grigio e apostou no alumínio para a linha Sofia Minis, lançada em 2004, durante a Semana de Moda de Nova York. As pequenas latas cor-de-rosa, chamadas pelo produtor de petite pink container, vêm acompanhadas de canudinho e parecem a versão delicada dos populares energéticos. As "garrafinhas egoístas" também encontraram espaço entre os espumantes. Pommery, Piper-Heidsieck e Moët & Chandon são apenas algumas das casas de champagne que se renderam aos novos consumidores, principalmente aqueles presentes em festas e clubs. Algumas marcas investem ainda em acessórios que complementam a embalagem, como as taças de plástico acopladas às garrafas de Moet & Chandon ou as capas isotérmicas da Veuve Cliquot. Esta última, lançada em 2004, acaba de ganhar uma versão bem exclusiva:
uma placa de metal que permite sua personalização, outra palavrinha que começa a soar com força entre os produtores. Para Júlio Cesar Schmitt Neto, sócio-diretor da importadora Porto Mediterrâneo, o uso de novas embalagens pode ser entendido como uma evolução tecnológica natural. "Encontra alguma resistência inicial, mas, com o passar do tempo, deve ser absorvido pelo mercado". No entanto, Neto faz questão de lembrar que, seja qual for a mudança, deve ser bem feita. Afinal, tratando-se de vinhos, não somos isentos às percepções visuais preliminares à degustação.
Comentários