Trauma de letrinhas miúdas não vale para rótulo de vinhos. Amistosos, eles trazem ótimas, variadas (e até inúteis) informações
Ele adianta em palavras as descobertas do paladar e saber decifrá-lo é passo essencial para comprar um vinho. O rótulo, pedaço de papel que envolve o corpo da garrafa, é a primeira interação entre o apreciador e a bebida. Como o vinho, não tem fórmula única e varia de formato, cor, ilustração e conteúdo. Algumas publicações afirmam que os primeiros a utilizar os rótulos foram os franceses, que, no século 18, usavam notas nos gargalos das garrafas presas com barbante e cera. De lá para cá, a transformação foi radical.
De acordo com Maitê Marine, sommelière da enoteca In Vino Amici, atualmente as vinícolas dão muita importância aos rótulos, pois perceberam sua influência na escolha do vinho pelo consumidor. "Se houver dúvida entre dois ou mais exemplares, o consumidor certamente escolherá o que tiver o rótulo mais atraente", diz Maitê. "E também o que o ajude a entender o que está dentro da garrafa".
Em geral (e independentemente do design gráfico), os rótulos trazem informações como nome do produtor, nome da região, cepa, classe do vinho, país de origem, safra, teor alcoólico e volume.
Maitê explica que os rótulos europeus são mais complexos e, por isso exigem um pouco mais de conhecimento do consumidor. "Geralmente, os vinhos do velho mundo, como os da França e os da Itália, destacam a região ou o vinhedo. A uva fica embutida na informação, dificultando a alguns consumidores saber se, em determinada região, os vinhos são produzidos com as uvas X ou Y", explica a sommelière.
Exemplos clássicos desses rótulos, conhecidos como geográficos, são os dos vinhos de Bordeaux, região onde se produzem bebidas com cinco variedades de uvas, e os de Borgonha, feitos de Pinot Noir.
Já os vinhos do novo mundo chegaram para facilitar a vida dos enófilos. Nessas garrafas, o nome do produtor, o tipo da uva e a região são informações objetivas, que não dão margem a equívocos. São os rótulos chamados varietais, etiquetas que valorizam muito mais a uva com a qual o vinho foi produzido.
"Como nos países do novo mundo não existe uma legislação tão rigorosa para as informações os rótulos, as vinícolas costumam enfatizar a uva em detrimento da região".
Os rótulos podem conter também algumas armadilhas de marketing. Ele conta que, tanto no Brasil quanto na Argentina, é comum que os próprios produtores insiram termos, como "reservado", por exemplo, que não querem dizer nada. "Por isso é importante que a compra seja feita em lugares confiáveis. (Clique aqui e compre pela internet).
E, na hora da dúvida, o consumidor deve consultar profissionais experientes, que podem ajudá-lo a compreender os rótulos", diz Haroldo.
O fato é que os rótulos do novo mundo ganharam o mercado. Tanto que, para reconquistar o público, vinícolas do sul da França passaram a adotar a descrição Malbec em vez de Côt, justamente porque Malbec está muito mais difundida que sua denominação francesa.
No contra-rótulo, vão informações adicionais, como a composição do vinho, o número do lote e outros itens obrigatórios segundo as leis do país de origem. Há aqueles que descrevem ainda algumas características do vinho, como sabores, aromas, pratos que se harmonizam com ele e processo de envelhecimento. "Muitos contra-rótulos funcionam como uma mini-ficha técnica, trazendo informações bem relevantes para os consumidores e facilitando sua degustação", diz Maitê.
Com arte
Além de informação confiável, o rótulo deve representar também o estilo do vinho, buscando identificação com o consumidor. Por isso, há espaço para todos, dos tradicionais aos ousados, passando pelos incomuns. Em 1945, na França, o Barão Philippe de Rothschild encomendou um desenho especial para comemorar o fim da Segunda Guerra Mundial. Desde então os rótulos do Château Mouton-Rothschild viraram espaço de destaque para a criação de artistas internacionais famosos, como Salvador Dalí, Pablo Picasso e Andy Warhol.
No Brasil, a arte sobre os rótulos também tem admiradores. É o caso do restaurante Amadeus, que teve alguns vinhos da casa com etiqueta exclusiva criada por artistas. O mais recente é seu chileno Cabernet/Carmenére, da região do Vale do Maipo, com um rótulo criado pelo artista plástico Newton Mesquita.
Já o restaurante Vinheria Percussi, comandado pelos irmãos Silvia e Lamberto Percussi, criou um rótulo próprio em parceria com a Vinícola Miolo. Trata-se do premiado Miolo Quinta do Seival Castas Portuguesas que, em edição exclusiva da casa, ganha a denominação de Percussi Reserva Especial Quinta do Seival e tem rótulo especialmente feito pelo artista plástico Claudio Tozzi. "Quis simbolizar a trama de sabores que será desvendada pelos aprecidores", disse o artista.
Outra parceria de sucesso da Miolo foi com o estilista Ronaldo Fraga, que em junho deste ano, durante a São Paulo Fashion Week, desenhou um rótulo exclusivo para o espumante Brut Rosé da vinícola. Após o seu desfile, Ronaldo recebeu no backstage cerca de 700 convidados que brindaram o sucesso da coleção. Um verdadeiro charme.
Há também diversas marcas que usam e abusam de "elementos que vendem" em suas etiquetas, como mulheres, animais ou desenhos com traços infantis, para citar alguns. Outras-se preocupam mais em transmitir um lado socialmente responsável, como a bodega espanhola Lazarus Wine, que decidiu colocar as informações sobre o vinho em braile, enfatizando seu conceito de elaboração sensorial. Várias vinícolas do novo mundo adotaram os rótulos destacáveis, para que o consumidor possa guardar a informação sobre um vinho que tenha agradado a ele. Por aqui, os vinhos Identidade, da Valduga, trazem rótulos que podem ser personalizados com o transfer da digital de quem compra o vinho ou com mensagens e notas de degustação.
Como se vê, no mundo do vinho, rotular não é algo ruim, pelo contrário.
Saiba Mais
-Em relação à classe, o vinho descrito como "fino" é elaborado exclusivamente com uvas do gênero "vitis vinífera" (de origem européia); já a expressão "de mesa" designa aquele elaborado com uvas americanas.
-No Brasil, o vinho com teor alcoólico abaixo de 8,6% é considerado "vinho leve", o vinho fortificado é denominado "licoroso" e o vinho adicionado de gás carbônico é rotulado "vinho gaseifcado".
O teor alcoólico do vinho pode ser definido como o volume percentual de álcool existente na garrafa. Por exemplo, a indicação 12% significa que uma garrafa de 750ml contém 90 ml de álcool etílico.
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