Para milhares de pessoas, trabalhar com vinho significa unir responsabilidade a uma fonte prazerosa de renda, as profissões são diversas, e as oportunidades, cada vez maiores
O crescimento da celebrada demanda do consumidor brasileiro por melhores vinhos, por mais informações e cultura, reflete no aumento da necessária oferta de mão-de-obra qualificada. E bem diversificada. As profissões ligadas diretamente ao setor atraem muitas pessoas, não apenas pelo fascínio de trabalhar com algo que admiram mas também pelos salários pagos a bons profissionais.
A expansão do número de vinícolas no país e de novas regiões produtoras movimenta um verdadeiro batalhão de profissionais do vinho, tanto na produção (vinhateiros, enólogos e agricultores) como na indústria de insumos (fornecimento de garrafas, caixas e maquinários para vinícola) e no comércio (lojista, distribuidores e importadores). Há também a cadeia de acessórios que abrange desde as especiais adegas climatizadas até pequenos saca-rolhas.
Existem ainda os profissionais que estão mais próximos dos consumidores, aqueles que contribuem como formadores de opinião. A cada dia novos jornalistas se especializam no assunto, novos blogs e portais de internet são lançados, degustadores, consultores e críticos conquistam espaço na mídia. Sem contar os milhares de novos sommeliers que chegam ao mercado todos os anos.
A associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo (ABS-SP) abriu mais uma turma no curso profissionalizante de sommeliers para atender ao aumento da demanda (400 estudantes), o que representa um crescimento de 300% em relação a 2005. "A procura é tanta que precisaremos abrir listas de espera para o próximo ano", cont o presidente da ABS-SP, Gustavo Andrade de Paulo. Coordenador de cursos de sommelier de diversas entidades nacionais, Manuel Luz explica que a profissão pode ser bem rentável. Um profissional recém-formado, que atua na capital paulista, pode chegar a ganhar, incluindo as comissões, cerca de R$ 2.500 por mês. Já alguém com mais experiência obtém ganhos em torno de R$ 4.500 mensais. "Apesar de não ser uma profissão regulamentada, bons sommeliers precisam de, pelo menos, 2 mil horas/aula de teoria, para depois seguir para a prática", diz luz. O especialista explica ainda que faltam cursos no Brasil que tenham reconhecimento internacional. "Seria fantástico proporcionar ao aluno, por exemplo, uma viagem a uma região vinícola do velho mundo".
Além desses especialistas, que atuam como coordenadores do serviço de vinhos de restaurantes ou como consultores em importadoras, há ainda uma outra versão da função, a de personal sommelier. Paulo Eduardo atua há três anos na área, auxiliando enófilos e empresas na montagem de adegas, além de prestar consultoria em festas e eventos.
Para alguém que queira comprar bebidas para uma recepção de cem pessoas, o cachê pelo servio pode variar entre R$ 250 e R$ 500, dependendo do nível de detalhes das escolhas. " É um trabalho delicado, que necessita projetar a harmonização da comida com os vinhos, levantar custos e opções de regiões e uvas", comenta Eduardo.
País do vinho
Segundo a Associação Brasileira de Enólogos (ABE), existem, no Brasil, mais de mil profissionais exercendo a função fundamental de "responsável pelo cobiçado líquido". Filiados à entidade estão cerca de 320 profissionais. Muito deles se formam em outros países e voltam para cá em busca de trabalho. Outros tentam ingressar em uma das duas escolas do Governo Federal que oferecem esse tipo de curso, o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) de Bento Gonçalves (RS) e o de Petrolina (PE).
Para exercer a função e assinar como responsável por um vinho é necessário ser graduado. Há dois cursos, o Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia, com duração de três anos, e o Técnico em Enologia, com duração similar, que pode ser feito simultaneamente com o ensino médio. Segundo a direção da Cefet a procura para ingressar no curso de enólogo é de dez candidatos/vaga, média que tem se mantido estável nos últimos anos. Nas plantações, o viticultor é responsável pela avaliação de matérias-primas, do solo, do clima e do manejo das videiras.
Na indústria, o enólogo cuida de todas as etapas de elaboração de produto como escolha dos percentuais de cepas nos vinhos de corte, maturação, fermentação e até nas condições de estocagem. Por não haver um piso estipulado para a categoria, há uma disparidade grande de faixas salariais.
Estima-se que grandes vinícolas paguem algo próximo a R$5 mil por mês a um profissional experiente.
As pequenas propriedades, muitas vezes os contratam por consultoria avulsa, para reduzir seus custos, o que obriga os enólogos a trabalhar para mais de uma empresa, além de ter de exercer outras atividades.
Enoturismo
Este é outro segmento que se expande paralelamente ao desejo dos brasileiros de viver uma experiência in loco com as origens do vinho. É cada vez mais comum que regiões e vinícolas invistam parte de seus recursos para atrair turistas com o apelo do charme enológico. Iniciativas isoladas de bodegas ou de associações representativas de produtores ocorrem em praticamente todos os locais onde são feitos vinhos finos no país - São Joaquim (SC), Sul de Minas Gerais, Vale do São Francisco, região Nordeste, e até a cidade de São Roque, no inteiror de São Paulo, estão entre eles.
Mas é no Rio Grande do Sul, especificamente no Vale dos Vinhedos (Bento Gonçalves e região), que está a melhor estrutura do país. Estimulados pelo grande número de eventos do setor e pela excelente oferta turística, que permite ao visitante degustar, comprar vinhos e até se hospedar nas próprias vinícolas, os "enoaventureiros" movimentam quase toda a economia das cidades ao redor e costumam retornar repletos de boas lembranças, encantados com a beleza local.
Segundo levantamento da Secretaria de Turismo de Bento Gonçalves, quase 530mil pessoas visitaram a região com esse propósito, ano passado. O dado representa um crescimento de 40% em relação ao mesmo período de 2006. Mérito de iniciativas como a do Spa do Vinho Caudalie, um projeto arroado que inclui, além dos serviços de resort em meio a vinhedos, opções especiais como a vinhoterapia, tratamento terapêutico que usa produtos da videira, do vinho ou do processo de vinificação.
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